Mãe de adolescente paga fiança para não ficar presa



Maria Rosa mantinha a filha de 16 anos acorrentada para evitar que ela fugisse de casa para consumir drogasO drama da dona de casa Maria Rosa da Silva, mãe da adolescente de 16 anos que era mantida acorrentada à uma cadeira, aumentou. Ontem, Maria Rosa foi autuada em flagrante na Delegacia de Plantão da zona Sul e só não permaneceu presa porque pagou fiança no valor de R$ 230,00. Mãe e filha foram separadas. A primeira retornou para casa enquanto que a adolescente foi  conduzida para a Casa de Passagem, na zona Norte da capital. O tratamento para a menina não está assegurado.

O caso veio a público em reportagem na edição do último domingo da TRIBUNA DO NORTE. Há mais de quatro meses, Maria Rosa mantém a filha acorrentada dentro da própria casa. Uma corrente e dois cadeados prendiam a perna da adolescente à uma cadeira de balanço durante o dia. À noite, a cena se repetia com a corrente fixada na cama. O fato ocorria porque, segundo a mãe, a adolescente fugia de casa para consumir drogas. “Não tinha mais o que fazer. Ele é viciada desde os 12 anos e, de uns tempos para cá, ficou agressiva e fugia de casa”, explicou. “Quero o melhor para ela, longe das drogas”, acrescentou.

Apesar de bem intencionada, ao acorrentar a filha, a mãe cometia um crime previsto no Código Penal Brasileiro (CPB): cárcere privado. Por causa disso,  a dona de casa foi presa em flagrante, no início da noite de ontem. Após pagar fiança de R$ 230,00 – valor conseguido através de doação de amigos – Maria Rosa foi solta. “Não imaginei que isso fosse acontecer. Eu só quero ajudar a minha filha. Não tenho intenção de machucar ninguém”, disse, desconsolada, na delegacia de plantão da zona Sul.

Os autos do flagrante serão enviados para a Delegacia Especializada na Defesa de Crianças e Adolescentes (DCA) e, posteriormente, o caso chegará à Justiça. A prisão da mãe já era prevista pelo titular da 1ª Vara da Infância e Juventude de Natal, José Dantas. Ouvido pela reportagem na última quinta-feira, o magistrado comentou o assunto. “Em tese, nesse caso, há maus tratos e cárcere privado. Mesmo a mãe tendo motivos para agir assim, são crimes”, disse. O juiz explicou ainda que, em casos como esse, a Justiça não condena a mãe. “Na verdade, essa mãe precisa muito mais de apoio do que punição. Minha visão é essa. De qualquer forma, apura o caso e a mãe tem como se defender. Ela chega aqui [no Judiciário] e não é condenada”, colocou. 

Apesar de autuada em flagrante, nenhum policial foi à casa de Maria Rosa. Ela chegou à delegacia conduzida por dois conselheiros tutelares. O Conselho Tutelar da zona Oeste tomou conhecimento do caso através da equipe de reportagem. Logo que souberam da situação, os conselheiros Marcílio Bezerra e Luís Carlos de Melo procuraram a mãe. “A primeira providência é assegurar que a menina tenha algum tratamento”, disse Marcílio.

Mas não foi o que aconteceu. Por volta das 10h de ontem, mãe e filha saíram de casa na companhia dos conselheiros. A primeira parada foi na sede do Conselho Tutelar. Lá, a mãe foi avisada que a polícia tomaria conhecimento do fato. “Não quero ser presa. Não fiz nada por mal. Só quero ajudar a minha filha. Quem visse a situação dela, me daria apoio. Ela mesmo pedia para ser presa em casa”, explicava Maria Rosa tentando convencer os interlocutores. 
Emanuel AmaralNa saída, mãe e filha foram separadas. Maria Rosa foi para casa e a filha ficou sob custódiaNa saída, mãe e filha foram separadas. Maria Rosa foi para casa e a filha ficou sob custódia

Depois, elas foram conduzidas à Delegacia Geral da Polícia Civil (Degepol) onde foram encamindadas para a delegacia de plantão. “O Conselho tem obrigação de comunicar o fato à polícia. Esse é o procedimento. Entendemos que a mãe queria proteger a filha, mas não podemos deixar de registrar na polícia”, disse  Luís Carlos.

Na plantão zona Sul, o delegado ouviu os conselheiros, mãe e filha antes de dar voz de prisão à mãe. “Trata-se de um caso de cárcere privado. O crime é afiançável e, como a condição financeira dela não é boa, fixei fiança no menor valor possível”, explicou o delegado que preferiu ter a identidade preservada. “Nunca pensei que isso fosse acabar assim. Todo mundo sabe que não fiz isso por maldade”, disse a mãe.


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