As perdas acumuladas ao longo do ano - em empregos e vendas - além da permanência do cenário econômico desfavorável devem atingir em peso um segmento do comércio varejista que sempre observa o final do ano com esperança: os trabalhadores temporários. De acordo com entidades do setor, o número de contratações deste tipo no Rio Grande do Norte, em 2015, deverá ser 70% menor do que o registrado em 2014 ou até zerado. No ano passado, a projeção da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio RN), para esta época, foi de 6 mil vagas no Estado.
“A perspectiva é esta, de no mínimo 70% de queda no número de temporários, se não for mais. Tem empresa que não deve adicionar ninguém na sua equipe de trabalho. A contratação de temporários neste ano vai ser muito pequena, até porque o setor já vem acumulado demissões. O momento é de adequação e diminuição dos custos e, o pessoal, faz parte disso”, comentou George Ramalho Vieira, presidente do Sindicato do Comércio Varejista e de Serviços do RN (Sicomércio/RN).
Ainda de acordo com George Ramalho, outros investimentos comuns na reta final do ano também devem ser reduzidos, pois não há garantias de retorno financeiro. “O empresário e o consumidor hoje não possuem credibilidade de futuro. O que vem não é bom, está todo mundo recuando. Um exemplo, é que temos acúmulo de estoque. Os clientes diminuíram, nós passamos a vender menos e essa possibilidade de novas aquisições de produtos é menor. Não podemos falar em números, porque varia de loja para loja, mas é fato”, afirmou.
Tal redução de faturamento e empregos é confirmada por Afrânio Miranda, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Logistas do RN. “Podemos dizer que essa projeção de 70% menos nas vagas temporárias é até otimista. A tendência é demissão. Não dá para manter as despesas do jeito que está o cenário. Temos empresas que estão faturando até 50% abaixo do que atingia no ano passado. Com crise e aumento de impostos, vira um rolo compressor”, frisou.
Seleção
Em anos normais, com contratações no comércio e sem crise econômica, as empresas começam a selecionar entre o final de setembro e início de outubro, para, em seguida, promover treinamento desse pessoal. Tal logística, porém, ainda não está sendo observada. “Não tivemos solicitações. O mercado não está bom, as empresas tem contratado apenas quem realmente é necessário. Muitas, inclusive, estão reduzindo postos de liderança, com os donos das médias e pequenas reassumindo os cargos”, analisou Wilson Moreira, diretor comercial da Humano Ser RH.
Apesar disso, há quem acredite em um cenário não tão desastroso, na esteira das promoções e festividades do fim de ano. “Não temos ainda o levantamento oficial (sobre vagas para trabalho temporário). Esta soma só vai ser concluída no final do mês de outubro. É difícil falar em números, mas, 70% (de queda) é muito alto. Em Natal, temos uma média de 1500 à 2500 vagas temporárias neste período, para anos ruins e bons. Se conseguirmos permanecer dentro desse quadro, não será um prejuízo”, declarou Augusto Vaz, presidente da CDL Natal.
Segundo Vaz, porém, uma coisa é certa: a disputa maior entre os candidatos a vagas temporárias. “Até o ano passado, estávamos com pleno emprego, onde a concorrência era menor e tinha muita gente empregada. Era mais fácil. Esse ano vai ser mais acirrado, principalmente em segmentos como o de vestuário”, pontuou. E acrescentou: “O salário segue o comercial e comissão, no caso das vendas. Assim como as qualificações mínimas. Mas, é importante que se procure logo as empresas, veja onde existe vaga e envie currículo. Os candidatos vão ter que bater perna”.
SHOPPINGS
O momento também não será dos melhores para procurar emprego em shopping. “As vendas estão menores que o ano passado, o fluxo de clientes está menor e a procura por produtos também. Para o fim do ano, não vamos pegar novos funcionários nem para apoio. As empresas vão trabalhar com quem já está na equipe”, salientou Eulália Morais, da Associação de Lojistas do shopping Midway Mall. A reportagem também procurou outros shoppings. O Natal Shopping, porém, ainda não divulgou se haverá contratações. O Partage Norte Shopping, na Zona Norte de Natal, também não deu números, mas se mostra otimista com as vendas. “Esperamos um resultado positivo nesse período de alta temporada. A proximidade com as principais praias de veraneio da região gera um bom fluxo e vendas durante o período. A tendência é manter o crescimento”, disse Fábio Maria, superintendente do shopping.
Consumo retraído deixa o setor “no vermelho”
Na esteira da crise econômica e influenciando a falta de confiança dos empresários está o recuo da intenção de consumo das famílias brasileiras, que, nos últimos doze meses acumula retração de 34,5%, segundo a Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O retrato é conferido também em solo potiguar, com exceção do turismo.
De acordo com pesquisa divulgada pela CNC neste mês, o índice de consumo registra queda pelo 8º mês consecutivo e, todos os quesitos da análise seguem com os menores valores desde que a série histórica foi iniciada, em 2010. O componente Nível de Consumo Atual, inclusive, é um dos mais baixos, com queda de 41% no ano.
“O comércio de rua e os shoppings estão acumulando números negativos semelhantes ao longo do ano. O consumo diminuiu muito”, disse Augusto Vaz, presidente da CDL Natal. A mesma perspectiva possui Afrânio Miranda, da FCDL/RN. “Já houve até fechamento de lojas. Tem empresário com 30%, 40%, até 50% de queda em determinados lugares. Hoje se perde até para as compras na internet”, afirmou.