Psicóloga Natália Tâmara, assinada a golpes de faca (Divulgação) |
FONTE: FALARN
O Tribunal do Júri da Comarca de São Gonçalo do Amarante, RN, realizou nesta sexta-feira, 18, o julgamento de Carlos André Santos Cassimiro, 30, vigilante, que foi sentenciado a 23 anos em regime fechado pela morte de Natália Tâmara Felipe Macedo, 24, psicóloga.
O clima era de comoção entre os familiares de Natália, que acompanharam o julgamento. Cerca de 20 policiais garantiram a segurança do preso e do local.
Carlos está preso há dezoito meses na Cadeia Pública de Natal, na Zona Norte (CPD). Segundo denúncia do Ministério Público Criminal, com base em informações das polícias civil e militar, o crime ocorreu na manhã do dia 22 de maio de 2015.
Durante seu depoimento ao Júri, André repetiu o que já havia dito. Primeiro negou ter estuprado a psicóloga, depois disse que o assassinato “não foi intencional”. O réu permaneceu cabisbaixo durante todo o julgamento.
“Foi fato isolado na minha vida. Perdão para dona Fátima e seu Valmir (pais de Natália), eles foram excelentes cuidando de minha filha”.
A MORTE – A psicóloga foi morta de maneira cruel com golpes de faca de mesa, que atingiram a região do pescoço. A arma do crime foi encontrada enterrada e torta.
O crime aconteceu dentro da casa do réu, pra onde a vítima foi atraída. Na casa de Carlos André, a perícia encontrou vestígios de sangue, sinais de luta corporal. Uma testemunha contou ter ouvido gritos distantes de socorro duas vezes, mas não deu importância. Natália era babá da filha de André, e ambos eram vizinhos
O corpo de Natália foi levada no porta mala de um carro para uma estrada de terra, próximo ao Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, distante dois quilômetros da cena do crime. Segundo a polícia, ela ainda teria chegado respirando na estrada onde foi abandonada.
Carlos André foi preso 24 horas depois na cidade de São Paulo do Potengi, RN. Ele confessou o crime e negou ter estuprado a psicóloga. A perícia não encontrou sinais de que houve relações sexuais.
Para o MP, Natália foi morta por ter recusado manter relações sexuais com Carlos. “Ela foi arrastada para dentro da casa dele. Ela lutou para viver”, disse o promotor criminal, Fausto França.
O assassinato causou comoção e grande repercussão. Quando a polícia capturou o vigilante, populares ameaçaram invadir a Delegacia de Polícia Civil, durante o depoimento. O policiamento precisou ser reforçado.
Carlos André, foi condenado a 23 anos de prisão pela morte da psicóloga (Tribuna do Norte) |
ACUSAÇÃO – O promotor pediu a condenação judicial máxima para o vigilante. “Ele tem maldade, cometeu uma perversidade. Nunca vi uma vítima tão querida como essa menina”, declarou Fausto durante o júri.
A promotoria apresentou um vídeo da ex-companheira do réu, com declarações de comportamento agressivo e violento de Carlos André. “A ex-esposa do réu relatou violência doméstica, agressividade, que ele quebrava coisas dentro de casa, chegando às vias de fato”, disse o promotor.
Segundo relatos, André fez chantagem para tentar manter relações sexuais com uma vizinha. Disse que se a moradora denunciasse revelaria segredos dela.
Para a promotoria o comportamento do vigilante com as mulheres chamava atenção.
“Natália foi morta por dizer não, foi morta por ser mulher. Isso é feminicídio – morte intencional de pessoas do sexo feminino”, acrescentou.
Segundo a promotoria o assassino conhecia a rotina da vítima e o crime foi premeditado, “acordava às quatro horas da manhã e ficava na frente da casa de Natália, olhando a mãe ir fazer atividades físicas”.
Fausto disse que Natália tinha um futuro brilhante pela frente, estava estudando inglês, e sonhava com especialização universitária, mestrado, doutorado.
O promotor também elogiou o trabalho dos policiais civis e militares, na investigação e elucidação do caso.
Corpo de Natália Tâmara foi encontrado sem vida numa estrada em terra (Divulgação) |
DEFESA – A advogada Magna Martins, que fazia defesa de Carlos André, negou que seu cliente tivesse estuprado a vítima, e disse que o crime não foi motivado por Natália ser mulher.
Pediu provas da promotoria de que André perseguia mulheres, tentando desconstruir o depoimento de testemunhas da acusação.
A advogada relatou que a morte foi uma “fatalidade”, e que o réu não estava consciente durante o crime por causa do uso de cocaína e álcool.
A defesa do vigilante tentou sensibilizar o júri dizendo que a casa da mãe do réu tinha sido destruída por populares, que a filha dele não tinha com quem ficar.
Advogada tentou descaracterizar que houve morte cruel. Alegou que André não tinha antecedentes criminais. A defesa tentou por várias vezes tirar o réu da cadeia por meio de inúmeros recursos judiciais.
Magna pediu ao júri para ser imparcial e não julgar apenas pela comoção e repercussão social que o assassinato teve.
Cama na casa de Carlos André, onde Natália Tâmara foi esfaqueada (Divulgação) |
CONDENAÇÃO – O Conselho de Sentença do Tribunal do Júri de São Gonçalo do Amarante, aceitou as teses defendidas pela acusação.
O Júri reafirmou que o crime não foi cometido por insanidade mental e descartou hipótese de homicídio simples. Para o jurado foi um assassinato cruel, onde a vítima não teve oportunidade de defesa, e reafirmou-se a tese de feminicídio – morte por ser do sexo feminino.
O réu foi condenado a 23 anos de prisão em regime fechado. “Foi uma pena adequada”, concluiu o promotor que esperava uma sentença de 30 anos para o réu.
A defesa de Carlos André afirmou que vai recorrer da decisão do Júri.
“Vamos recorrer em todas as instâncias. O que nós esperamos é no mínimo a desclassificação do que foi solicitado pelo Ministério Público, que é o feminicídio, e não enxergamos que foi uma morte cruel. Foi um crime que teve realmente comoção social, foi o que o Júri enfatizou”, disse advogada.
Carlos André foi levado direto para o presídio, o FalaRN não conseguiu confirmar o local exato onde ele deverá permanecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário